Tropeiros e o contato com os índios caiapós
Essa imagem deveria ser muito comum nas terras de Itapira no sec. XVIII
- Nota do autor do site -
"SESMARIAS"
Reprodução do mapa mostrando ( no círculo) as sesmarias concedidas entre 1668 a 1707
respectivamente aos religiosos de São Bento e a Amador Bueno da Veiga.
A área engloba as terras de Eleutério entre outras, demonstrando que nessas datas já haviam sido ocupadas
por mineradores, sesmeiros e um batalhão composto por 1.300 homens vindos
com Amador Bueno da Veiga para combater os emboabas em Minas Gerais.
(fonte:Revista do Instituto Histórico e Geográfico de SP - Vol. XXIV, DE 1926
========================================================
Havia moradores nas terras de Itapira desde os tempos mais remotos provindos pelo que consta de um posto de tropeiros localizado no arraial de Mogi Mirim anterior a 1700.Como soe acontecer logo, logo, povoadores de todas as direções começavam a se fixar por essas bandas. Foram movidos logicamente pela possibilidade do ganho de terras através, de sesmarias e pelo enriquecimento com a possibilidade de mineração do ouro, pelas terras mais adiante.Era de praxe naqueles tempos que a posse de terras devesse passar pela concessão de sesmarias fornecidas pelo Conselho de Sua.Majestade Real. Fontes riquíssimas ainda bem conservadas existentes na Repartição de Arquivo e Estatística do Estado, através do 3º Livro de Registro de Sesmarias, permitiram ao autor pesquisar em documentos históricos especificamente sobre as terras de Itapira. Nessas fontes encontrou-se várias sesmarias referentes a Itapira enfocando a que foi concedida ao sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar cujo teor passamos a transcrever abaixo:
"Antonio da Silva Caldeira Pimentell, do Conselho de Sua Magestade governador e capitão general da capitania de São Paulo, e Minas do Paranapanema do Cuiabá, e Guayazes, etc. Faço saber aos que esta minha carta de sesmaria virem que tendo consideração ao que por sua petição me enviou a dizer o sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar morador nesta praça de Santos que no caminho do sertão das minas de Guayazes se achava uns campos, e capões devolutos que partem com as terras de Manoel de Castro adeante do rio Cezar e como supplicante se acha com bastantes criações de gados vaccuns e cavallares, quer haver por carta de sesmaria em nome de Sua Magestade de suas legoas de terras em quadra na dita paragem para mandar cultivar com gados e lavouras e para de tudo pagar os dízimos a Deus pedindo-me lhe fizesse mercê em nome de Sua Magestade mandar passar carta de sesmaria de duas legoas e ser conveniente se cultivem das terras daquele caminho.Hei por bem conceder em nome de Sua Magestade que Deus guarde duas legoas de terra em quadra ao dito sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar no caminho do sertão das minas dos Guayzes adeante do rio Cezar partindo com terras de Manoel de Castro e com as mais confrontações que nella se declaram as quaes terras concedo ao suplicante para que as haja logre, e possua como cousa própria tanto elle como todos os seus herdeiros descendentes e ascendentes sem pensão nem tributo algum mais que o dizimo a Deus Nosso Senhor dos fructos que nellas tiver a qual concessão lhe faço não prejudicando a terceiro e reservando os paus reaes que nas ditas terras houverem para embarcações, com a obrigação de fazer os caminhos de sua testada; e cultivará as ditas terras de maneira que dêem fructos, e dará caminhos públicos e particulares aonde forem necessários para pontes, fontes, portos e pedreiras e se demarcará ao tempo da posse por rumo de corda e braças craveiras como é estylo e Sua Magestade manda, e confirmara esta carta pelo dito senhor dentro de dois annos primeiros seguintes pelo seu Conselho Ultramarino na forma da ordem real de 3 de março de 1704. E será obrigado a cultival-as, demarcal-as e confirmará dentro dos ditos dois annos, com declaração que não ficará o supplicante sendo senhor das minas de qualquer gênero de metal que nas ditas terras se descubrirem e mandando Sua Magestade criar villa naquele districto dará terras para rocio e bens do conselho como o dito senhor ordena; e passando as dictas terras a pessoas eclesiásticas pagarão dellas dízimos e todos os mais encargos que o dito senhor lhe quizer impor; e outrossim não poderão nellas se succeder religiões por nenhum título e acontecendo possuil-as pagarão dízimos como se fossem possuídas por pessoas seculares; e faltando a qualquer das clausulas nesta declaradas se haverão por devolutas, e se darão a quem as pedir ou denunciar como Sua Magestade manda.Pelo que ordeno ao Provedor da Fazenda Real, ministros, officiaes de justiça e mais pessoas desta capitania a que tocar, que na forma referida e com as condições declaradas deixem ter e possuir ao dito sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar as ditas duas legoas de terras em quadra na mencionada paragem para elles e todos os seus herdeiros descendentes e ascendentes como cousa própria.Cumpra e guardem esta minha carta de datas de terras de sesmaria inteiramente como nella se contem se duvida alguma a qual lhe mandei passar por mim assignada e sellada com o sinete de minhas armas que se registrará nos livros da secretaria deste governo nos da Fazenda Real desta praça e aonde mais tocar.Dada na praça de Santos aos vinte e oito dias do mez de Setembro do anno de mil setecentos e vinte e oito.O secretario Bento de Castro Carneiro a fez Antonio da Silva Caldeira Pimentel. Sello Carta de sesmaria por que Vossa Senhoria há por bem conceder em nome de Sua Magestade que Deus guarde ao sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar duas legoas de terras em quadra no sertão das minas de Guayazes no caminho dellas adeante do rio Cezar partindo com Manoel de Castro como nella se declara.Para vossa senhoria ver. E não continha mais na dita sesmaria a que me refiro.a)Bento de Castro Carneiro.”
Essa sesmaria limitava com a de Manoel de Castro, o primeiro morador civilizado que teve Serra Negra e cujo domicílio era em Poço de Água Quente, agora Lindóia.
O rio Cezar, aludido no documento ainda conserva o mesmo nome, segundo foi apurado pelo autor.Nasce nas encostas do Morro Pelado em Lindóia formado pela conjunção de numerosos ribeirinhos que ali vertem, reunindo-se depois ao ribeirão d’Água Quente e penetrando no atual município de Itapira.
Encontra-se no documento de sesmarias citado acima aquela que foi concedida a Manoel Pereira Velho no caminho que ia de Mogi Mirim ao bairro do Macuco (Livro número 11 de “Sesmarias Antigas”).Uma outra, dada mais tarde e consignada no livro 13, tem por como beneficiário Manoel dos Santos Silva, “morador na vila de Mogi Mirim desta Capitania com mulher e filhos” e ao qual foi concedida meia légua de terras em quadra buscando o rumo do sertão “começando a correr das terras do defunto Manoel Pereira Velho.
Como podemos ver é dispensável muita perspicácia para identificar em sargento-mór Manoel Gonçalves de Aguiar, Manoel Pereira Velho e Manoel dos Santos Silva os ascendentes de nossos fundadores Manuel Pereira da Silva e João Gonçalves de Morais que tantos anos mais tarde deveriam ser, um o iniciador da povoação de N.S.da Penha de Mogi Mirim, depois transformada na Itapira de hoje e outro, o doador dos terrenos para o respectivo patrimônio.
Muito tempo decorreu sem que qualquer fato digno de nota viesse perturbar a existência pacifica dos primeiros itapirenses.
Foi nessa atmosfera de calma perfeita no bairro do Macuco – nome então dado à região – que raiou o ano de 1800. Aqui moravam numerosos lavradores e entre eles os das famílias Morais, chefiada por João Gonçalves de Morais e Pereira, cujo principal era Manoel Pereira da Silva homem simples, bondoso e dotado de profundos sentimentos religiosos, a ponto de ir todos os domingos a Mogi mirim para assistir aos ofícios divinos.
A rua da Palha (atual Avenida Rio Branco, pela resolução nº 2 , de 16/06/1913, prestando homenagem ao barão de Rio Branco (falecido a 10 de fevereiro de 1912), é provavelmente a mais antiga rua da cidade, vindo sem seguida as ruas do Cubatão, Saldanha Marinho (antiga Rua Formosa e depois Ladeira da Santa Cruz, conforme aprovação de proposta do vereador Bento José de Oliveira Rocha em sessão de 09 de julho de 1882), do Comércio e Municipal. Na Rua da Palha, um pouco mais aos seus fundos, ficava a casa do fundador de Itapira, João Gonçalves de Moraes, e no decorrer do tempo, seus descendentes também moraram nessa mesma rua ou nas suas proximidades..."
É provável que uma tal Maria de Morais, possuidora de uma chácara na Rua da Palha, seja uma das filhas de João Gonçalves de Morais. Esta senhora vendeu um terreno em 1882, por 70 contos de réis, para a construção de um matadouro. Um Pedro de Moraes também filho provável de JGM, possuía uma casa em 1893 na Rua da Palha. Um Antonio de Moraes também descendente de JGM e outros em 1908 possuíam uma casa nessa mesma rua que era conhecida na época por "Caminho do Matadouro". Outros Moraes também tinham residência na Rua da Palha, a saber: Alexandrina Gonçalves de Moraes e Francisca Gonçalves de Morais. Outros moradores residiam na Rua da Palha.São eles: Ana Fernandes d'Ulhoa, Jose Adarico Pinheiro de Magalhães, José Antonio de Siqueira e a firma Nogueira & Cia,.
A primeira casa de Itapira, já em ruínas, no fim do século XIX
1ª Foto - Casa onde morou João Gonçalves de Moraes, co-fundador de Itapira. Antigamente, a rua da Palha, ou Caminho do Matadouro, ficava bem à sua frente, depois ficou nos fundos da Av. Rio Branco.
À direita da foto aparece Giovanni Batista Trani, que foi casado com bisnetas de João Gonçalves de Moraes.
2ª Foto - Atual travessa da Rua Santos Dumont, fundos da Av. Rio Branco. No final do beco ficava a casa onde morou João Gonçalves de Moraes,
a qual, demolida, cedeu o espaço para outra casa, onde morou o motorista Oscar Vieira. (Foto de JM). A casa de Antonio Trani era muito bonita, do tipo chalé e ficava na direção da rua Joaquim Inácio. Nos anos 60/70 foi demolida para a abertura da rua Santos Dumont. No local está hoje o Posto de gasolina Rio Branco. (Fonte: JM).
Planta urbana de Itapira em 1914
1 - Cemitério da Saudade 2 - Rua da Penha 3 - Parque Juca Mulato
4 - Praça Bernardino de Campos 5 - Av. Rio Branco 6 - Largo de São Benedito
João Gonçalves de Morais, por sua vez, possuindo bela imagem da Virgem Santíssima da Penha, que lhe viera dos antepassados, colocara a sobre um móvel na casa de sai moradia – localizada onde hoje está a Avenida Rio Branco – congregando ao redor da santa, com muita freqüência, os outros moradores dos quais recebia numerosas espórtulas.
"Escritura de compra e venda da Fazenda do Rio do Peixe feita por Manuel Joaquim de Oliveira
e sua mulher Maria Rosa Pinheiro a Manuel Pereira de Avelar pela quantia de 1:803$960"
(Acervo Charles de Freitas)
Escritura de 7-1-1824 da doação da terra à N.S.da Penha
feita por João Gonçalves de Morais a Manuel Pereira da Silva
(Acervo Charles de Freitas)
Autógrafos de Manuel Pereira (como " Pereira de Avelar"
e como Pereira da Silva"), de seus filhos
(Acervo Charles de Freitas)
Assinatura em "Cruz" de João Gonçalves de Morais
(Acervo Charles de Freitas)
Imagem barroca e original de N.S.da Penha.Esta relíquia espiritual tem mais de 200 anos.
É feita em madeira com 35 cms.de altura e pesa quase 3 kgs.
Foi subtraída de seu nicho no altar da Igreja entre os dias 25 e 27 de Dezembro de 1995.Continua desaparecida.No centro está atualmente a réplica substituta.À direita imagem de N.S.da Penha conf.a escritora Odete Coppos.
Atilado, embora dotado de poucas luzes, Manoel Pereira da Silva compreendia e inconveniência de continuarem as coisas desse modo, pelo que após vários anos de silencio deliberou agir, procurando João Gonçalves de Morais, propondo-lhe a ereção de modesta capelinha, na qual a santa, ficando melhor alojada, continuasse a receber as homenagens do povo.Morais aceitou e reunidos os moradores para a escolha do local destinado ao novo templo, concordaram todos que fosse ele levantado no topo da colina em terrenos do mesmo Morais, exatamente no fim da atual ladeira do Cubatão, à mão esquerda, pois por ali passava a estrada das minas.
Tudo combinado, a derrubada do mato teve início, de mão comum, na madrugada de 24 de outubro de 1820, continuando aos poucos, embora vagarosamente, porquanto era impossível àquela gente, quase toda pobre dedicar todo o tempo ao piedoso afã, abandonando por completo as suas lavouras. No mês de março do ano seguinte estava a obra concluída, pelo que a imagem foi trazida processionalmente para a capela.
Manoel Pereira da Silva, o incansável orientador de tudo, sendo amigo do revmo.padre Antonio de Araújo Ferraz, missionário de passagem por Mogi Mirim, conseguiu trazer esse sacerdote até o Macuco, sendo celebrada a primeira missa em 19 de março de 1821, dia que a Igreja Católica consagra ao Patriarca São José e passando a localidade a ter o nome de Penha da Boa Vista.
Aceitando o lugar de cura daquelas almas, o Revmo. Padre Araújo Ferraz, de acordo com Manoel Pereira da Silva, entendeu legalizar a existência da capela.Como esta estivesse em terrenos de João Gonçalves de Morais, a este coube requerer providência.
Encaminhados os papeis, pessoalmente, pelo padre Ferraz , o então bispo diocesano D. Matheus de Abreu Pereira concedeu a almejada licença em 23 de setembro de 1823 exigindo, porém, que ao novo Templo fosse doado o competente patrimônio.
João Gonçalves de Morais acedeu e assinou o documento de doação escrito pelo Revmo. sr. padre Antonio de Araújo Ferraz, entregando trezentas braças de terras em quadra para o patrimônio de N.S.da Penha e dizendo: “desistimos de toda posse, gozo e domínio que tínhamos nas ditas terras, na pessoa de Manoel Pereira da Silva, primeiro protetor e procurador da dita imagem que, a nosso beneplácito, já se acha dirigindo, no dito lugar, o desejado Oratório a N. Senhora.
Acrescentou: cuja doação de terras o fazemos não só por devoção a dita imagem e adjutório que fizeram no levantamento de nossa casa de morada em atenção a Nossa Senhora.Assim estavam doados à povoação não só ao patrimônio como a própria santa.
Lendo-se atentamente às páginas anteriores, concluímos, de forma positiva e insofismável que os fundadores de Itapira foram os Pereira da Silva por dois motivos sem contestação: o documento mais antigo que pode ser encontrado é a sesmaria concedida, em território hoje ocupado pelo município, a Manoel Pereira Velho, em 1716, e a idéia de instalação do povoado partiu de Manoel Pereira da Silva, com a assistência moral do Revmo. Snr.P.Antonio de Araújo Ferraz. A João Gonçalves de Morais coube a doação do patrimônio, nenhum outro gesto tendo praticado que demonstrasse intenção de agir pela evolução do arraial que se formava.
Vários anos decorreram, aumentando progressivamente o povoado e impondo-se a instalação de pequeno campo santo.Os moradores resolveram então, transferir o minúsculo templo para as vizinhanças do cinema atual, (Cine Paratodos) o cemitério no ponto deixado pelo oratório de Nossa Senhora da Penha.
Pouco mais e em 1835 era conseguida a capela curada de N.S.da Penha de Mogi Mirim.
Corria o ano de 1840 quando aqui chegou o snr. Comendador João Baptista de Araújo Cintra, varão respeitável e com idéias de progresso bastante avançadas para a época.
Foto do Com. João Baptista de Araújo Cintra
Adquirindo vasta área de terrenos abriu fazendas e iniciou a cultura do café, com grande pasmo dos outros lavradores cujas atividades não iam alem da criação de porcos; As casas do povoado eram todas de madeira, constituindo acontecimento sensacional a construção, pelo Sr. Comendador Cintra, do primeiro prédio de taipas, destinado à sua residência.
A primeira casa de Itapira, já em ruínas, no fim do século XIX
Foi além a sua iniciativa, deliberando substituir a modestíssima capela de pau por um templo maior, inteiramente de taipas.Em 1842 deu início à obra, construindo uma igreja com alicerces de 12 palmos de profundidade e oito de largura, paredes com a espessura de 6 palmos e 42 de altura. O edifício contava 163 palmos de extensão e 80 de largura, tinha um belo altar-mór, trono e altar dedicado ao Santíssimo Sacramento, estando forrado e pavimentado em parte.
Igreja Matriz 1857
Segundo o relato da construção (livro nº 1 de Reg.de Offícios, fls.38v e seguintes, do Archivo da Municipalidade) o sr.Araújo Cintra contribuiu com 12 contos para a realização do grandioso tentamen.
Em 18 de março de 1845 instalou-se o cartório de órfãos. Sendo nomeado escrivão o sr.Francisco Manoel Thomaz que prestou compromisso perante o sr.dr.Francisco José de Azevedo Júnior, Juiz de Direito substituto da comarca de Mogi Mirim.
Dois anos após, em 8 de fevereiro de 1847, a lei nº1 criava a freguesia de N.S.da Penha, antiga Penha de Mogi Mirim.
Só em 1857, quando as obras da matriz estavam ultimadas, realizou-se a transladação da gloriosa imagem da Virgem padroeira, que ainda permanecia na pequenina capela primitiva.
O sr. Comendador João Baptista Cintra, um dos homens que mais trabalhavam pela criação do município, esforçava-se pela construção da cadeia, pois a existência desse edifício representava grande contribuição ao sucesso da idéia.Nesse sentido interessou-se junto à câmara de Mogi Mirim que, entretanto, pouca disposição demonstrava em atender aos seus rogos, receosa de perder, em conseqüência, um largo trecho de território.Estavam as coisas nesse pé quando, por entre extraordinárias manifestações de jubilo da população, aqui chegou a notícia de ter sido assinada a lei nº 4, de 2 de março de 1858, criando a vila de Nossa Senhora da Penha.
£££££££££££
Nenhum comentário:
Postar um comentário